Fantastipedia
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Feastgods

A Festa dos Deuses, de Cornelis Van Poelenburgh (1623)

Os deuses foram originalmente uma classe específica de entidades espirituais pressupostas pelos mitos e ritos tradicionais das culturas indo-européias. Sincretismos e analogias levaram a estender o conceito a outras entidades de importância comparável nas mesmas mitologias, bem como a entidades mais ou menos análogas de outras culturas, como os kami japoneses ou os orixás iorubás, e mesmo ao Deus único das religiões monoteístas.

Deuses proto-indo-europeus[]

Assembly

A Assembléia dos Deuses, de Jacopo Zucchi (1575-76)

Etimologicamente, a palavra “deus” deriva do proto-indo-europeu *deiwos através do latim deus, cognato do sânscrito deva, avéstico daeva (embora nesta língua a palavra tenha o sentido de “demônio”), grego dio (embora a forma mais comum seja theos), gaulês devo, irlandês dia. Em algumas línguas, deu origem ao nome de um deus específico: proto-germânico Tiwaz, alto alemão antigo Ziu, nórdico antigo Týr, inglês antigo Tiw, eslavo Dazbog, lituano Dievas. O termo deve ter inicialmente designado os deuses como seres do céu diurno, pois deriva da raiz *dei-, “brilhar”, assim como o termo “dia”, em oposição à noite (latim dies, védico dyauh, irlandês dia).

Alguns nomes de deuses são geralmente reconhecidos como comuns a várias línguas indo-européias antigas e provavelmente presentes nas crenças da cultura proto-indo-européia que as originou:

  • *Dyeus Phter, Céu-Pai, do qual derivam os nomes do deus grego Zeus, o latino Júpiter, o indiano Dyaus ou Dyaus Pita e o irlandês Dagda.
  • *Plthvih Mhter, Terra-Mãe, que dá a hitita Lelwanni, a Indiana Prthivi, a grega Demeter, a romana, Latona; e o grego Ploutos.
  • *Sehul, o Sol, do qual derivam o indiano Surya, avéstico Hvara; grego Hélios (e talvez Helena); latino Sol; galês, Dylan; nórdico antigo Sol; inglês antigo Sigel e Sunna, russo Zorya, lituano *Saulē. O gênero gramatical e do deus variam.
  • *Mehnot, a Lua, que dá o avéstico Mah; nórdico antigo Mani, inglês antigo Mona; eslavo Myesyats; lituano *Mēnō, or Menuo; letão Meness, também de gênero variável.
  • *Heusos, a Aurora, que dá a grega Eos, a latina Aurora e a védica Ushas.
  • *Perkwunos, o Golpeador, relacionado ao trovão, do qual viriam o indiano Parjanya, o prussiano Perkūns, lituano Perkūnas, letão Pērkons, eslavo Perun e o nórdico Fjörgyn.
  • *Pehuson, deus pastoral, do qual derivariam o grego , o romano Fauno e os indianos Pashupati e Pushan.
  • *Hepom Nepots, “neto/sobrinho das águas”, do qual viriam o védico e persa Apam Napat, o latino Netuno, o celta Nechtan, o etrusco Nethuns, e o germânico Hnikar.
  • *Dehnu, “deusa do rio”, relacionado à indiana Danu, irlandesa Danu e galesa Don e também ao nome de vários rios: Danúbio, Don, Dnieper, Dniester e o lendário Erídano, entre outros.
  • *Welnos, “deus do gado”, relacionado ao eslavo Veles, lituano Velnias, "protetor dos rebanhos"; nórdico antigo Ullr e inglês arcaico Wuldor.

Deuses na antropologia evolucionista[]

Do ponto de vista da antropologia evolucionista, os deuses, característicos do politeísmo, são entidades imaginadas como bem definidas e universais, em oposição aos daimones, seres geralmente menos definidos que se supõe associados a determinado lugar (árvores, pedras, bosques etc.), pessoa, ou tribo.

Segundo essa concepção, a crença em daimones, ou "polidemonismo" era a forma mais primitiva de religião, sucedida pelo politeísmo (crença em deuses, de personalidade mais definida e concebidos como universais), pelo henoteísmo (crença em um deus acima dos demais) e finalmente pelo monoteísmo (crença em um Deus único).

O polidemonismo, por outro lado, teria sido precedido pelo animismo, crença generalizada em espíritos que não são objeto de culto sistemático.

Correspondências entre deuses[]

Ao longo da Antiguidade, diferentes povos julgaram reconhecer os deuses de outras culturas nos seus próprios e vice-versa. Os romanos, por exemplo, identificaram a maioria de seus próprios deuses – cuja mitologia era relativamente pobre, embora seu culto e ritual fosse rico e complexas suas relações com vida quotidiana – a deuses gregos, incorporando sua rica mitologia, embora esta nem sempre parecesse compatível em todos os aspectos com os conceitos que os romanos originalmente tinham de suas próprias divindades.

Isso não significa necessariamente uma tentativa consciente de impor suas próprias concepções às alheias, como às vezes se interpreta a atitude dos romanos, nem de disfarçar suas crenças sob as aparências de um culto mais aceito e poderoso, como se costuma interpretar o comportamento de povos submetidos aos romanos e também, por exemplo, o sincretismo dos orixás iorubas com os santos católicos.

Em geral, é uma conseqüência lógica do pressuposto de cada cultura politeísta de que seus deuses são universais. Decorre dessa crença que deuses com atributos mais ou menos análogos de outras culturas, ou invocados em situações similares, sejam considerados os mesmos deuses com outros nomes, ainda que suas mitologias possam ser muito diferentes.

Quanto aos deuses conhecidos por gregos, romanos e os povos com os quais entraram em contato, as correspondências geralmente reconhecidas estão demonstradas a seguir

Deuses relacionados em grande parte do mundo antigo[]

deus
grego
deus
latino
deus
etrusco
deus
egípcio
deus
gaulês ou
britânico
deus
cananeu
deus
nórdico ou
germânico
Adônis Adônis Atunis Tammuz
Asclépio Esculápio ou Veiove Eshmun
Apolo ou Febo Apolo ou Febo Aplu Hórus Beleno, Borvo, Granno ou Maponos Freyr
Afrodite Vênus Turan Hátor ou Néftis Astarte,Anat Frigg / Frija ou Freya / Fricco
Ares Marte Maris Onuris (Anhur) Toutatis ou Nodens Tyr / Tiw / Ziu
Ártemis Diana Artume Bast / Bastet
Atena Minerva Menrva Neith Sulis, Coventina, Icovellauna ou Sequana Tanit
Cronos Saturno El, Hammon, Moloch ou Javé
Deméter Ceres Ísis
Dioniso ou Baco Líber ou Baco Fufluns Osíris
Eros Cupido Iah Nanna ou Nammu
Gaia Flora Ishtar ou Inanna Frigg
Hécate Trívia Ceridween
Hélios Sol Aplu Ra Sol / Sunna
Hefesto Vulcano Sethlans Ptah Gobannos
Hera Juno Uni Nut
Héracles Hércules Hercle Harsafes Ogmios Melcarte
Hermes Mercúrio Turms Thot Lugus Odin / Woden / Wotan
Higeia Salus (Saúde) Sirona
Leto Latona Buto ou Uadjet
Maia Maia, Bona Dea Rosmerta
Fauno Min
Reia Magna Mater / Ops Tefnut
Nike Vitória Bodua
Nix Nox (Noite) Nott
Selene Lua / Diana Máni
Têmis Justiça Maat
Zeus Júpiter ou Jove Tinia Amon Taranis Doliqueno ou Baal Hadad Thor / Thunar / Donar
Sileno Silvano Selvans Sucellus
Moiras Parcas ou Fatas Nornas
Cloto Nona Urdr
Láquesis Décima Verdandi
Átropos Morta Leinth Skuld

Deuses relacionados apenas no âmbito grego e itálico[]

deus
grego
deus
latino
deus
etrusco
Anfitrite Salácia -
Ananke Necessidade -
Cárites Graças
Caronte Caronte Charun
Cástor Cástor Castur
Cibele Magna Mater
Clóris Flora
Ênio Belona
Eos Aurora ou Matuta Thesan
Eósforo ou Fósforo Lúcifer
Erínias Diras ou Fúrias
Éris Discórdia
Eros Cupido ou Amor
Feme Fama
Gaia Tellus ou Terra
Hades ou Plutão Dis Pater / Plutão / Orco Aita
Hécate Trivia ou Diana
Hebe Juventas
Héspero Vésper
Héstia Vesta
Hipnos Somnus (Sono)
Horas Horas ou Estações
Ilítia Lucina
Irene Pax (Paz)
Musas Camenas
Odisseu Ulixes ou Ulisses Uthuze
Palêmon Portunes
Panes Faunos
Perséfone Prosérpina Aita
Plutão Dis Pater / Plutão / Orco Aita
Polideuces Pólux Pultuce
Posêidon Netuno Nethuns
Sátiros Faunos
Sêmele Stimula Semla
Tânatos Morte Leinth ou Charun
Tique Fortuna Nortia
Urano Céu (Caelus)
Jano Ani
Terminus
Vertumno Voltumna
Anemoi Ventos -
Bóreas Aquilão Andas
Euro Vulturno
Noto Austro
Zéfiro Favônio

Referências[]

  • Manfred Lurker, Dicionário dos Deuses e Demônios, São Paulo: Martins Fontes, 1993
  • Émile Benveniste, O Vocabulário das Instituições Indo-européias, Campinas: Unicamp, 1995
  • Pierre Lévêque, As Primeiras Civilizações - Volume III: os indo-europeus e os semitas, Lisboa: Edições 70, 1990.
  • Wikipedia (em inglês): Interpretatio graeca [1]
  • Wikipedia (em inglês): Proto-Indo-European religion [2]

Veja também[]

Deuses do trovão

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