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Jorgelibra

Representação de São Jorge em moeda britânica de ouro (meio soberano)

SaoJorge

São Jorge, em estampa popular no Brasil

A devoção a São Jorge é uma das mais populares no cristianismo, tanto no Ocidente (principalmente Inglaterra e Portugal) quanto no Oriente (Rússia, Armênia e Líbano, entre outros) e até entre muçulmanos, ao menos no passado - era identificado como o santo, anjo ou profeta muçulmano al-Khidr ou al-Khadr ("O Verde").

É padroeiro da Inglaterra, Geórgia, Aragão, Barcelona, Moscou, Baviera, Beirute, República Tcheca, Sérvia, Lituânia e Hungria. É comemorado em 23 de abril, exceto pela Igreja Ortodoxa da Geórgia, que o comemora em 6 de maio e 23 de novembro.

Sua veneração originou-se na Palestina para se difundir pelo Oriente e chegar à Europa ocidental no século V. São Nino de Capadócia, ao qual se atribui a conversão da Geórgia no século IV, teria sido seu parente. O próprio nome da Geórgia (chamada em sua própria língua de Sakartvelo) é conhecido na Grécia e no Ocidente parece ser devido à popularidade do culto do santo.

Sua lenda é uma das mais detalhadas e fantásticas de todo o santoral católico e já era duvidosa em 494, quando Jorge foi canonizado pelo papa Gelásio I, entre aqueles "cujos nomes são reverenciados pelos homens com justiça, mas cujos atos são conhecidos apenas de Deus."

Em 1963, a falta de base histórica para a existência do suposto mártir levou a Igreja a retirá-lo do calendário oficial e rebaixá-lo a culto local e não obrigatório. Entretanto, a reação conservadora do pontificado de João Paulo II levou à plena restauração do seu culto em 2000.

A Lenda Oficial[]

Segundo a lenda ensinada aos católicos dos tempos modernos, Jorge foi um soldado cristão nascido na Capadócia. Mudou-se para Lida (na Palestina), terra de sua mãe, após a morte do pai (que seria da Capadócia) e foi promovido a capitão do exército romano por sua dedicação e habilidade - qualidades que levaram o imperador Diocleciano a conferir-lhe, aos 23 anos de idade, o título de comes (origem da palavra "conde", mas equivalente, na época, a ministro) e chamá-lo a exercer altas funções na corte imperial em Nicomédia, então capital do Império Romano.

Um dia, o imperador Diocleciano decidiu eliminar os cristãos. No dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se atônito com a decisão. Afirmou que os os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses e defendeu a fé em Jesus Cristo como Senhor e salvador dos homens.

O Imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos, inclusive lacerando-o com uma roda de espadas. Após cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os ídolos. Jorge sempre respondia: "Não, imperador! Eu sou servo de um Deus vivo! Somente a Ele eu temerei e adorarei". Finalmente, Diocleciano teria mandado degolar o jovem e fiel servo de Jesus no dia 23 de abril de 303. Seu sofrimento teria convertido a Imperatriz Alexandra, esposa de Diocleciano, e o sacerdote pagão Atanásio, que a ele se juntaram no martírio e foram também canonizados.

Origens da Lenda[]

Narrativas de antigos peregrinos dos séculos VI ao VIII, como Teodósio, Antonino e Arculfo, falam de Lida (Lydda, em latim) ou Dióspolis (atual Lod, entre Tel-Aviv e Jerusalém) como a sede da veneração de São Jorge e lugar de repouso de seus restos mortais (Geyer, "Itinera Hierosol.", 139, 176, 288).

A antiguidade das dedicações ao santo é atestada por inscrições de ruínas de igrejas na Síria, Mesopotâmia e Egito e a igreja de São Jorge em Tessalônica é considerada por algumas autoridades como datando do século IV.

Segundo o filólogo jesuíta Hippolyte Delehaye, as mais antigas narrativas conhecidas da lenda (fragmentos da qual já são encontrados em palimpsestos do século V), já estão carregadas de maravilhas extravagantes e inacreditáveis. Jorge foi morto três vezes - da primeira vez, picado em pedaços pequenos, da segunda, enterrado no fundo da terra, na terceira, consumido pelo fogo - e a cada vez foi ressuscitado pelo poder de Deus.

Além disso, fala-se de mortos trazidos de volta à vida para serem batizados, conversões em massa e da inexistente "Imperatriz Alexandra", exércitos e ídolos destruídos instantaneamente, vigas de madeira das quais ramos e folhas brotam de súbito e, finalmente, leite que flui, em vez de sangue, da cabeça do mártir degolado, segundo a versão mais antiga da lenda, por um inexistente imperador persa chamado Dadiano (depois racionalizado como o romano Diocleciano).

O famoso episódio do dragão é um acréscimo tardio à lenda. Segundo a Encyclopedia Catholica, o dragão só é mencionado a partir dos séculos XII e XIII. É encontrado na Lenda Dourada de Jacobus de Voragine, ao qual provavemente deve sua ampla difusão. Pode ser derivado de uma alegorização do tirano Dadiano ou Diocleciano, às vezes chamado de "dragão do abismo" (ho bythios drakon) nos textos mais antigos.

Nessa versão, o reino da Líbia sorteava virgens para serem sacrificadas, vestidas como noivas, a um dragão. A escolha recaiu sobre a filha do rei e este ofereceu seu tesouro e metade do reino a quem a salvasse. Informado, o capadócio São Jorge fez o sinal da cruz e conseguiu ferir o dragão. Fez, então a princesa amarrá-lo com uma cinta de flores e conduzi-lo à cidade, onde o matou em troca da conversão do rei e do povo ao cristianismo.

Segundo Delehaye, Jacobus também "confundiu o mártir com seu homônimo, Jorge de Capadócia, partidário da heresia ariana que se apoderou da sé de Alexandria e era inimigo de Santo Atanásio".

"Alexandra" e Prisca[]

Historicamente, a esposa de Diocleciano chamava-se Prisca e era cristã, mas conformou-se a sacrificar aos ídolos quando o marido exigiu, durante as grandes perseguições de 303. Ficou viúva em 305, mas foi protegida pelo genro e sucessor, Imperador Galério, até a morte deste, por doença, em 311.

Exilada na Síria pelo Imperador Maximino, Prisca foi decapitada em 315 por ordem do Imperador Licínio, à época aliado e co-imperador do Imperador Constantino e co-signatário do Édito de Milão, que deu liberdade de culto aos cristãos (embora, em 320, prestes a romper com Constantino, Licínio tenha tomado medidas repressivas contra o cristianismo).

Conexões islâmicas e pagãs[]

Historicamene, São Jorge, cuja festa era celebrada em 23 de abril, data próxima do equinócio da primavera no hemisfério norte, foi freqüentemente visto como relacionado à fecundidade da terra. O nome George significa, etimologicamente, "trabalhador da terra", "camponês", logo aquele que produz o verde da terra ao explorá-la. Pelas supostas ressurreições narradas na forma primitiva da lenda, também é associado à imortalidade e à ressurreição da vegetação e da vida humana.

Isso o liga a al-Khidr, "O Verde", santo, anjo ou profeta muçulmano supostamente contemporâneo de Moisés que, ensinou ao profeta os tortuosos caminhos da Providência de Alá e, ao lado de Alexandre, o Grande, teria encontrado a fonte da juventude. Esse personagem é às vezes relacionado também ao profeta hebreu Elias.

No folclore europeu, São Jorge é também associado ao "Homem Verde" de antigas lendas pagãs. Segundo Sir James George Frazer, em O Ramo de Ouro, o festival do "Jorge Verde" era a principal celebração da primavera entre os ciganos da Transilvânia e Romênia e era comemorado no dia de São Jorge.

Uma árvore derrubada na véspera era adornada. Mulheres grávidas colocavam uma peça de roupa sob a árvore e, no dia seguinte, verificavam se havia caido uma folha sobre ela. Isso era agouro de um parto sem problemas. Idosos e doentes pediam à árvore que lhes concedesse mais vida, depois de nela cuspir três vezes. "George Verde", um jovem coberto de cima a baixo por folhagens verdes, distribuía punhados de pastagem ao rebanho da aldeia como promessa de abundância de pastagem ao longo do ano. A seguir, retirava três lascas da árvore, usando uma ferramenta purificada por três dias em agua, e as atirava em um curso d'água, em oferenda aos espíritos da água. Por fim, um simulacro de George Verde era arremessado no curso d'água.

Também entre os eslavos da Caríntia, no dia de São Jorge, uma árvore derrubada na véspera era decorada com guirlandas de flores e carregada em procissão liderada por "Jorge Verde", um jovem coberto por ramos verdes da cabeca aos pés. No final da cerimônia, o personagem ou seu simulacro era jogado em um lago ou um curso d'água. Uma canção lhe pedia que alimentasse os rebanhos, caso contrário a água o afogaria.

No Brasil, predominou o aspecto de "santo guerreiro" e a imagem de São Jorge como "caçador do dragão". Na Bahia, o sincretismo religioso o identificou com Oxóssi, orixá da caça. No Rio de Janeiro e em outras partes do país é associado a Ogum, orixá da guerra e da metalurgia.

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