Fantastipedia
Advertisement
Lenda da Sapucaia-Roca

Lenda da Sapucaia-Roca, Ilustração de J. Lanzellotti

Sapucaia-Roca ou Sapucaia-Oroca (que significaria "galinheiro") é uma pequena povoação à margem do rio Madeira, sob o qual existiria uma cidade submersa. A lenda pode ter sido criada por missionários como fábula moralista, visando a catequese. Há na lenda elementos de Atlântida e possivelmente também de Eldorado ou Paitíti.

Primeira versão[]

Sapucaia-roca era uma cidade fantástica e completamente diferente de todas as aldeias construídas pelos índios. Muito rica, com casas e palácios feitos de ouro. As ruas tinham sido cobertas de pedras preciosas e seus moradores também estavam acostumados a andarem ricamente vestidos e davam festas que duravam dias e dias. As melhores comidas e bebidas eram servidas nessas comemorações.

Com o passar do tempo, esses nativos não faziam outra coisa a não ser dar festas. Tupã, entretanto, começou a não gostar daquilo. Andava perturbado com que acontecia, pois os índios não trabalhavam mais. Sendo ricos, compravam o que precisavam de seus vizinhos. Tupã enviou-lhes diversos avisos, mas a beberagem era tanta que eles nem tomaram conhecimento. Continuaram a levar a vida em festas e divertimentos.

Tupã aborrece-se e fez cair uma chuva durante dias. A água começou a subir sem parar. Os indígenas poderiam ter fugido, mas não quiseram abandonar suas riquezas. A cidade acabou desaparecendo nas águas. Entretanto, Tupã, que é um pai bondoso, não deixou que seus filhos morressem. Sendo assim, continuaram a viver dentro da água. Quem passa por perto do local, diz ouvir galos cantadores dentro do rio. São os espíritos protetores dos índios alertando os habitantes da nova povoação que surgiu nas proximidades para que também não sejam castigados. Daí o nome Sapucaia-Oroca. Significa "galinheiro".

Bernardino de Souza[]

Segundo versão contada pelo Cônego Francisco Bernardino de Souza em Lembranças e Curiosidades do Vale do Amazonas, em 1873 e recolhida por Câmara Cascudo no livro Lendas Brasileiras, de Câmara Cascudo (Rio de Janeiro: Ediouro, 2000), dizem os índios que, pouco abaixo do lugar em que acha assentada, existiu outrora uma povoação, muito maior que, um dia, desapareceu da superfície da terra, sepultando-se nas profundidades do rio.

É que os Muras, que então a habitavam, levavam a vida desordenada e má, e nas festas, que em honra de Tupana celebravam, entregavam-se a danças tão lascivas e cantavam cantigas tão impuras, que faziam chorar de dor aos angaturamas, espíritos protetores que por eles velavam. Por vezes os velhos e inspirados pajés, sabedores dos segredos de Tupana, haviam-nos advertido de que tremendo castigo os ameaçava, se não rompessem com a prática de tão criminosas abominações. Mas cegos e surdos, os Muras não os viam, nem os ouviam. E pois um dia, em meio das festas e das danças e quando mais quente fervia a orgia, tremeu de súbito a terra e na voragem das águas, que se erguiam, desapareceu a povoação. As altas barrancas que ainda hoje ali se vêem, atestam a profundidade do abismo em que foi arrojada a povoação e os réprobos.

Depois, muitos anos depois, foi que começou a surgir a atual povoação, que ainda não pode atingir ao grau de esplendor da fora submergida. Foram de novo habitá-la os Muras; mas em breve, por entre a escuridão da noite começaram a ouvir, transidos de medo, como o cantar sonoro de galos, que incessante se erguia do fundo das águas.

Consultando os pajés, que perscrutavam os segredos do destino, declaram estes que aquele cantar de galos, ouvido em horas mortas da noite, provinha daqueles mesmos angaturamas, que deploraram outrora a misérrima sorte da povoação submergida e que, sempre protetores dos filhos dos Muras, serviam-se do canto despertador dos galos da Sapucaia-Roca submergida, para recordarem o tremendo castigo por que passaram seus maiores e desviarem a nova geração do perigo de sorte igual. É este o fato que deu origem ao nome da povoação: Sapucaia-Roca.

Referências[]

  • Lenda da Sapucaia-Roca [1]
  • Lenda da Sapucaia-Roca [2]
Advertisement