Eritia (do grego Nêsos Erytheia, "Ilha Vermelha") é o nome de uma ilha citada na mitologia grega, do lado mais ocidental do Rio Oceano, que é banhada de vermelho pela luz do Sol poente. É também o nome de uma das ninfas Hespérides.
A ilha era o lar de Gerião, gigante de três corpos, e de seu fabuloso rebanho de bois vermelhos. Em um de seus doze trabalhos, Héracles foi enviado para tomar-lhe o gado. Para isso, viajou em um barco de ouro emprestado do deus-sol, Hélios. Meniotes, pastor do gado de Hades na mesma ilha, avisou Gerião da chegada do herói.
Eritia era um entre várias terras mitológicas do extremo oeste: havia também Hespéria, jardim dos deuses; Sarpedon, ilha das Górgonas e Leuke, a ilha dos mortos bem-aventurados. Ainda mais a oeste, nas costas opostas do rio Oceano, estava o sobrio reino de Hades.
Localização[]
Plínio, o Velho, citando Políbio como fonte, identificou Eritia com uma ilha em frente a Gades (hoje Cádiz), na atual Espanha. A hipótese de Plínio associa Eritia a Tartessos, grande cidade mercantil entre as duas bocas do antigo rio Tartessos ou Baétis (provavelmente o atual Guadalquivir). Como Tartessos já havia desaparecido na época clássica, a referência geográfica teria sido confundida pelos romanos com a colônia fenícia de Gades, que em seu tempo era a cidade mais importante da região. Adolf Schulten (1924) identificara o rei Heron de Tartessos, ao qual o poeta grego Estesícoro (600 a.C.) dedicou um perdido poema épico chamado Heroneida, como o Gerião do mito de Héracles.
Entretanto, segundo o mito de Héracles, o herói velejou para Eritia em um cálice ou tigela de ouro (grande o suficiente para carregar a ele e ao gado de Gerião) cedida por Hélios por uma distância que parece ter sido considerável, o que excluiria uma ilha tão próxima da costa ibérica. Segundo Estesícoro, o poderoso filho de Hipérion (Hélios) fez descer uma taça de ouro sólido de maneira que ele (Héracles) pudesse cruzar o Oceano e atingir as profundidades da Noite profunda e sagrada... enquanto o filho de Zeus, que atingiu Eritia na taça e nela viajou de volta ao continente, agora a devolve a Hélios e retorna a pé para o bosque ensombrecido por louros. Assim, outros, como Pompônio Mela, situavam Eritia em frente à Lusitânia, junto com outras ilhas sem nome. Gaius Julius Solinus, gramático latino do século III ou IV, o seguiu, escrevendo que a ilha de Eritia está situada diante da Lusitânia[1].
Avienus, escritor latino do século IV, acrescentou que Eritia era habitada por etíopes e ciclopes e disse que estava localizada perto de Gades[2].
J. Schoo especulou que o mito de Gerião (cujo nome está relacionado com gêrýein, "gritar", "ressoar") estava relacionado com algum cataclismo vulcânico e que seu cão Ortro seria a cratera de um vulcão atroador. R. Hennig (1934), seguindo essa opinião, identificou Eritia com Tenerife, uma das Canárias e cita o mito segundo o qual gotejou sangue das árvores entre as quais Gerião foi enterrado. Essas árvores seriam dragoeiros ou dracenas (Dracena drago), plantas encontradas nas Ilhas Canárias, Madeira, Açores, Cabo Verde e sul do Marrocos que exsudam uma resina vermelha conhecida como "sangue de dragão" e outrora usada como corante vermelho[3].
Como a ilha tinha nome semelhante ao Mar Vermelho (Erythraian, em grego), os dois foram frequentemente confundidos, o que levou alguns a situá-la no Oriente, contra toda a tradição mitológica.