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Tupac Amaru I

Tupac Amaru I, cuja decapitação teria dado origem ao mito do Inkarri

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A execução de Túpac Amaru I pelos espanhóis

Inkarri (corruptela quéchua do castelhano "Inca rey") é o personagem central de um mito que surgiu nos Andes peruanos após a conquista, para alimentar a esperança da reconstituição do Tawantinsuyu (o Império Inca) destruído no século XVI. É análogo, portanto, ao mito português do sebastianismo, ao sonho da volta do rei Artur nas lendas galesas e bretãs e às esperanças messiânicas em geral.

Há muitas versões desse mito, recolhido da tradição oral andina pela primeira vez em 1955, na comunidade indígena de Q'ero Paucartambo, Cuzco, por uma expedição etnológica dirigida por Óscar Nuñez del Prado, da qual partipavam Josafat Roel Pineda e Efraín Morote Best.

Uma versão recolhida por José María Arguedas durante suas pesquisas em Puquio, na região de Ayacucho e consistia em afirmar que a cabeça enterrada do inca decapitado está crescendo:

Dizem que só a cabeça de Inkarri existe. A partir da cabeça está crescendo para dentro: dizem que está crescendo até os pés (Arguedas, 1964).

Uma vez restituídos corpo e cabeça, Inkarri ressuscitará e voltará para recuperar seu reino. Na opinião de Henrique Urbano, a idéia de ressurreição é de origem cristã e mostra desde cedo a ambivalência e sincretismo de noções refletida no mito.

Não sei, dizem que voltará. Voltará tomando corpo. Por que não haveria de voltar se está em seu querer? "Ele está com seus poderes", costumavam dizer os avós (versão recolhida em Andamarca por Juan Ossio e Jorge Herrera, 1973).

Em outras versões, é o corpo que está enterrado e cresce, pois a cabeça foi levada para Lima ou para a Espanha. Variantes com matizes mais cristãos dizem que o regresso de Inkarri será o fim do mundo e o juízo final.

Algumas versões fazem de Inkarri o herói civilizador que fundou Q'ero e Cuzco e se retirou à selva de Pantiacolla, para se refugiar na cidade de Paitíti.

Segundo a interpretação hostil de Mario Vargas Llosa em La utopía arcaica - José María Arguedas y indigenismo, Inkarri é o deus do mundo andino ou uma de suas manifestações tardias, ao qual se atribuem qualidades de divindade suprema, criador de tudo que existe e fundador de Cuzco. Ao chegarem os espanhóis ao Peru, Inkarri foi aprisionado por meio de trapaças por "Españarri" (contração de "España Rey" e, simbolicamente, da civilização ocidental cristã).

Españarri martirizou Inkarri, dispersou seus membros pelas quatro regiões que formaram o Tawantinsuyu e enterrou sua cabeça em Cuzco. Mas essa cabeça está viva e o corpo está se regenerando em segredo. Quando acabar de se reconstituir, Inkarri voltará, derrotará os espanhóis e restaurará o Tawantinsuyo e a ordem do mundo rompida pela invasão espanhola.

O mito surgiu, provavelmente, das execuções dos incas Atahuallpa em 1533 e Túpac Amaru I em 1572. O primeiro foi garroteado, o segundo decapitado. A essência do mito consiste em supor que quando a cabeça e o corpo dos reis incas voltem a se reunir e restaurar, também se produzirá a restauração do Império. Segundo Franklin Pease, o mito tomou forma no século XVII.

Referências[]

  • Wikipedia (em castelhano): Inkarri [1]
  • Ana María Lorandi, De Quimeras, Rebeliones y Utopias: la gesta del inca Pedro Bohorque. Lima: Fondo Editorial de la PUC del Perú, 1997.

Veja também[]

Paitíti

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