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NanaBuruku01

Nanã, ilustração de José Carlos Martinez

Nanã ou Nanã Burucu (do iorubá Nàná Buruku ou Nàná Bùkùú ou Nàná Brukung) é uma divindade muito antiga. Considerada a orixá da chuva, das águas paradas, do mangue, da terra molhada e da lama, é a mãe dos orixás Obaluaiê, Iroco, Ossãe, Oxumaré e Euá. Sua árvore sagrada é o baobá (Adansonia digitata), chamado ossê em iorubá e akpassatin em fon.

Nanã na África[]

A área que abrange o seu culto é muito vasta e parece estender-se de leste, além do Níger, pelo menos até a região tapá, a oeste, além do rio Volta, nas regiões dos guang, ao nordeste dos ashantí. No entanto, se o culto de Nanã Buruku confunde-se no leste com o de Xapanã Obaluaiê-Omolu, dele se afasta completamente no oeste, onde seu nome se pronuncia Nàná Brukung ou simplesmente Brukung.

Parece que, segundo as informações publicadas em notas recolhidas em Oyó, Abeohutá, Kêto, Ifanhim, Saketê e Porto Novo, o lugar de procedência, nessas regiões, sejam Savê. No entanto, este é na realidade o local de disseminação desse culto e não seu lugar de origem.

Em Savê e nas regiões mais a oeste encontra-se o culto de Nàná Bùkùú, mas também o de várias outras Nanãs, ali chamadas Nèné, uma das quais seria de origem bariba. Isso lembra que a antiga dinastia originária de um filho de Odùduà, fundador de Savê, mais tarde abandonou o trono (para voltar para Ipetumodu, perto de Ifé) e deu lugar a uma nova dinastia vinda de território bariba. Por outro lado, é preciso ressaltar que Nàná é um termo de deferência empregado na região de Ashanti para as pessoas idosas e respeitáveis e que esse mesmo termo significa “mãe” para os fon, os ewe e os guang da atual Gana.

As pesquisas de Pierre Verger sobre Nanã Buruku em Dassa Zumê, Abomey, Dumé, Tchetti, Bobé, Lugbá, Banté, Djagbala, Kpesi e Atakpamê indicam Siadé ou Schiari, na região do Adelê do atual Gana e perto da fronteira do Togo, como destino de peregrinação e não como lugar de origem, mas não chegaram a esclarecer os laços existentes entre todas as divindades cujo nome é precedido de Nàná ou Nèné. Elas são chamadas de Inie e parecem todas desempenhar um papel de deus supremo. Em todos esses templos há um assento sagrado salpicado de vermelho, em forma de trono ashanti, reservado à sacerdotisa de Inie, no qual só ela pode tocar. Todos os iniciados ligados ao templo têm grandes bengalas salpicadas de pó vermelho e, em torno do pescoço, usam cordinhas trançadas sustentando uma conta achatada de cor verde.

Nanã no Novo Mundo[]

Nanã Buruku (ou Nanã Buruquê) é conhecida no Novo Mundo, tanto no Brasil como em Cuba, como a mãe de Obaluaiê-Xapanã. É sincretizada com Sant'Ana no Brasil e com Nossa Senhora do Carmo ou Santa Teresa em Cuba. Os colares de contas de vidro, usados por aqueles que são consagrados, são na cor branca com lista azuis. Segundo uns, o seu dia é a segunda-feira, juntamente com seu filho Obaluaiê; segundo outros, é o sábado, ao lado das outras divindades das águas. Seus adeptos dançam com a dignidade que convém a uma senhora idosa e respeitável. Seus movimentos lembram uma andar lento e penoso, apoiado num bastão imaginário que os dançarinos, curvados para a frente, parecem puxar para si. Em certos momentos, viram-se para o centro da roda e colocam seus punhos fechados, um sobre o outro, parecendo segurar um bastão.

O símbolo de Nanã é o ibiri, um cajado recurvo, feito com palitos do dendezeiro, que nasceu junto com ela, na sua placenta. Ele representa a multidão de eguns, que são seus filhos na terra dos homens, e Nanã o carrega como se embalasse uma criança. Os búzios que simbolizam morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos, também pertencem a Nanã.

Quando Nanã Buruku se manifesta numa de suas iniciadas é saudada pelos gritos de “Salúba!” Para a orixá dos abismos, da lama, dos pântanos, considerada a mais velha das iabás, toca-se o sató, um ritmo vagaroso e pesado, apropriado aos lentos movimentos desta deusa que dança curvada, "varrendo" o mal. Fazem-lhe sacrifícios de cabra e galinhas-d´angola, sem utilizar facas, e oferecem-lhe pratos preparados com quiabos, sem azeite, mas bem temperados.

É considerado a mais antiga das divindades das água, não das ondas turbulentas do mar, como iemanjá, ou das águas calmas dos rios, domínio de Oxum, mas das Águas paradas dos lagos e lamacentas dos pântanos. Estas lembram as águas primordiais que Odùduà ou Òrànmíyàn (segundo a tradição de Ifé ou e Oyó) encontrou no mundo quando criou a terra.

Um mito sugere a existência de uma civilização onde Nanã Buruku (confundida com Yemowo, a mulher de Òrìşànlá-Ọba-Ìgbó) estaria presente antes da chegada de Odùduà, com Ògún no seu séqüito, impondo a nova civilização do ferro.

Nanã Buruku é o arquétipo das pessoas que agem com calma, benevolência, dignidade e gentileza. Das pessoas lentas no cumprimento de seus trabalhos e que julgaram ter a eternidade à sua frente para acabar seus afazeres. Elas gostam das crianças e educam-nas, talves, com excesso de doçura e mansidão, pois têm tendência a se comportarem com a indulgência dos avós. Agem com segurança e majestade. Suas reações bem-equilibradas e a pertinência de suas decisões mantêm-nas sempre no caminho da sabedoria e da justiça.

Mitos de Nanã[]

  • Nanã tinha poder sobre os mortos. Para roubar esse poder, Oxalá casou-se com ela, mas não ligava para a mulher. Então, Nanã fez um feitiço para ter um filho. Tudo aconteceu como ela queria mas, por causa do feitiço, o filho, Omolu, nasceu todo deformado, horrorizada, Nanã jogou-o no mar para que morresse. Como castigo pela crueldade, quando Nanã engravidou de novo, Orunmilá disse que o filho seria lindo mas se afastaria dela para correr mundo. E nasceu Oxumaré, que durante 6 meses vive no céu como o arco-íris, e nos outros 6 é uma cobra que se arrasta no chão.
  • Na aldeia chefiada por Nanã, quando alguém cometia um crime, era amarrado a uma árvore e então Nanã chamava os Eguns para assustá-lo. Ambicionando esse poder, Oxalá foi visitar Nanã e deu-lhe uma poção que fez com que ela se apaixonasse por ele. Nanã dividiu o reino com ele, mas proibiu sua entrada no Jardim dos Eguns. Mas Oxalá espionou-a e aprendeu o ritual de invocação dos mortos. Depois, disfarçando-se de mulher com as roupas de Nanã, foi ao jardim e ordenou aos Eguns que obedecessem "ao homem que vivia com ela" (ele mesmo). Quando Nanã descobriu o golpe, quis reagir mas, como estava apaixonada, acabou aceitando deixar o poder com o marido. Hoje no Culto aos Egungun só os homens são iniciados para chamar os Eguns.
  • Certa vez, os Orixás se reuniram e começaram a discutir qual deles seria o mais importante. A maioria apontava Ogum, considerando que ele é o Orixá do ferro, que deu à humanidade o conhecimento sobre o preparo e uso das armas de guerra, dos instrumentos para agricultura, caça e pesca, e das facas para uso doméstico e ritual. Somente Nanã discordou e, para provar que Ogum não é tão importante assim, torceu com as próprias mãos os animais destinados ao sacrifício em seu ritual. É por isso que os sacrifícios para Nanã não podem ser feitos com instrumentos de metal.
  • Quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada. Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde ela morava, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos orixás, povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar à terra, voltar à natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo mas quer de volta no final tudo o que é.

Nanã na Umbanda[]

Santa ana

Sant'Ana, sincretizada com Nanã na Umbanda

Na Umbanda, Nanã é uma das caboclas da linha de Iemanjá, sincretizada com Sant'Ana, a avó de Jesus. Dona das águas paradas, das chuvas e dos pantanos, ela decanta em seus domínios todas as matérias impuras dos homens, preparando a limpeza do espírito para a próxima reencarnação.

Referências[]

  • Pierre Fatumbi Verger, Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo, São Paulo: Corrupio, 1981
  • Rita Amaral, "Povo-de-santo, Povo de Festa: a centralidade da festa de candomblé como potência estruturante da religião", em Os Urbanitas, ano 1, vol. 1, nº 1 [1]
  • Filha de Nanã Buruku [2]
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