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OgumOxossi

Oxóssi (abaixo) e Ogum, ilustração de José Carlos Martinez

Oxossi

outra interpretação de Oxóssi

Oxóssi ou Oxoce (do iorubá Òşóòsì), o orixá dos caçadores, teria sido o irmão caçula ou o filho de Ogum . É importante por vários fatores:

  • como protetor dos caçadores e propiciador de caça abundante;
  • por passar grande parte do tempo nas florestas, em contato com Ossãe, orixá das folhas terapêuticas e litúrgicas, aprendendo com ele parte do seu saber;
  • porque, em suas expedições de caça, descobre lugares favoráveis à instalação de novas roças e aldeias e assim torna-se o primeiro ocupante do lugar e senhor da terra (onílè), com autoridade sobre quem venha aí se instalar;
  • porque os caçadores (ode) eram os únicos a possuir armas nas aldeias, servindo também de guardas-noturnos (òşó).

Oxóssi no Novo Mundo[]

O culto de Oxóssi encontra-se quase extinto na África, mas foi bastante difundido no Novo mundo, tanto em Cuba como no Brasil. Na Bahia, diz-se que ele foi rei de Kêtu, onde outrora era cultuado. Esse país foi completamente destruído e saqueado pelas tropas do rei do Daomé no século XIX e seus habitantes, inclusive os iniciados de Oxóssi, foram vendidos como escravos para o Brasil e Cuba.

No Brasil, seus iniciados usam colares de contas azul-esverdeadas e a quinta-feira lhe é consagrada. Seu símbolo, o ofá, é um arco e flecha em ferro forjado (hoje, outros metais) e o iruquerê (espanta-moscas), insígnia de dignidade dos reis da África e que lembra ele ter sido rei de Kêtu. Suas danças imitam a caça, a perseguição do animal e o atirar da flecha. Sacrificam-lhe porcos e são-lhe oferecidos pratos de feijão preto ou fradinho com eran patere (miúdos de carne). Oxóssi é saudado com o grito "Okê!" O seu ritmo é o mesmo de Iansã, o aguerê, mas tocado de maneira mais cadenciada e menos rápida.

Mitos de Oxóssi[]

  • Olofin Odudua, rei de Ifé, celebrava a festa dos novos inhames, esquecendo-se, porém, de fazer uma oferenda às feiticeiras. Havia grande multidão no pátio do Palácio Real. O Olofin estava sentado em grande estilo, magnificamente vestido, cercado de suas mulheres e de seus ministros, enquanto que escravos o abanavam e espantavam moscas, tambores batiam e louvores eram entoados em sua honra. Os convivas conversavam alegremente, e felizes festejavam, comendo dos novos inhames e bebendo vinho de palma. Subitamente, um pássaro gigantesco planou sobre a multidão, indo se empoleirar sobre o teto do prédio central do Palácio do Rei. Este pássaro malvado era mandado pelas feiticeiras, chamadas Iyami Oxorongá ou Eleyé, proprietárias de pássaros. A confusão e o desespero tomaram conta da multidão. Foram procurados, sucessivamente, quatro Oxós, caçadores guardiães da noite, chamados respectivamente de Oxotôgun, o atirador de vinte flechas, de Idô; Oxotogi, o atirador de quarenta flechas, de Moré; Oxatadotá, o caçador de cinqüenta flechas, de Ilarê; e Oxótakanxoxô, o caçador de uma só flecha, de Iremã. Nenhum dos três primeiros - todos muitos seguros de si mesmo um pouco fanfarrões - conseguiu atingir o enorme pássaro, apesar de possuírem, todos eles, grande habilidade. Quando chegou a vez de Oxótakanxoxô, sua mãe foi consultar um Babalaô que lhe declarou o seguinte: "Seu filho está somente a um passo, seja da morte, seja da riqueza. Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á riqueza". Ela foi depositar, então, na estrada, uma galinha que havia sido sacrificada, cortando-lhe e abrindo-lhe o peito, como devem ser feitas as oferendas às feiticeiras. A mãe de Oxótakanxoxô pronunciou três vezes um encantamento: "Que o peito do pássaro aceite esta oferenda!!!" Era o momento preciso em que seu filho lançava sua única flecha. O pássaro relaxou o encanto que o proteggia, para que a oferenda chegasse a seu peito, mas foi a flecha que o atingiu. Ele caiu pesadamente ao chão, se debateu e morreu. Todo mundo se pôs a cantar e a dançar: " Oxó é popular! Oxo é popular! Oxowussi! Oxowussi! (Òsówusì, daí Òşóòsì, "Oxóssi").
  • Oxóssi era irmão de Ogum e de Exu, todos os três filhos de Iemanjá. Exu, por ser indisciplinado e insolente com sua mãe, foi mandado embora. Os outros dois filhos se conduziam melhor. Ogum trabalhava no campo e Oxóssi caçava nas florestas vizinhas. A casa encontrava-se, assim, abastecida de produtos agrícolas e de caça. Iemanjá, no entanto, andava inquieta e resolveu consultar um Babalaô. Este aconselhou não mais deixar Oxóssi ir à caça, pois se arriscava a encontrar Ossãe, aquele que possuía o conhecimento das virtudes das plantas e que vivia nas profundezas da floresta. Oxóssi ficaria exposto, assim, a um feitiço de Ossãe para obrigá-lo a permanecer em sua companhia. Em vista disto, Iemanjá ordenou ao filho que renunciasse às atividades de caçador. Este, porém, de personalidade independente, continuou as suas incursões à floresta. Partia em companhia de outros caçadores que tinham o hábito de, ao chegarem ao pé de uma grande árvore, Iroco (Milicia excelsa), se separarem, indo à caça isoladamente, para se encontrarem, ao final do dia, no mesmo local. Certa noite, Oxóssi não voltou ao local do encontro, nem respondeu aos apelos dos outros caçadores. Ele tinha encontrado Ossãe que o convidou à beber uma poção onde certas folhas tinham sido maceradas, caindo assim em estado de amnésia. Não sabia mais quem era nem onde morava. Ficou, pois, vivendo em companhia de Ossãe, como previra o Babalaô. Ogum, inquieto pela ausência do irmão, partiu à sua procura e o encontrou nas profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas Iemanjá , irritada, não quis receber o filho desobediente. Revoltado com a intransigência materna, Ogum recusou-se a continuar em casa. É por este motivo que o local consagrado a Ogum encontra-se sempre ao ar livre. Quanto a Oxóssi, preferiu voltar para a floresta, para perto de Ossãe, Iemanjá, desesperada por ter perdido os três filhos, transformou-se em um rio.

Oxóssi na Umbanda[]

Saosebastiao

São Sebastião / Oxóssi, na Umbanda

Na Umbanda, Oxóssi é um dos principais orixás, responsável por uma Linha que abrange caboclos e caboclas no sentido estrito (índios que usam cocares) relacionadas a conselhos sobre cura física ou espiritual. Às vezes é personificado na figura do Caboclo, isto é, do índio, ostentando um cocar e portando arco e flecha. Sua cor é o verde. Sacrificam-se a Oxóssi frangos ou galos carijós. Come milho, amendoim, coco ralado e mel. As "obrigações" de Oxóssi são feitas na mata, de preferência sob mangueira ou outra árvore frondosa. Acendem-se velas verdes e deixa-se, além das comidas do santo, vinho tinto com fitas verdes no gargalo da garrafa. Gosta de milho verde em espiga ou seco a granel, água de coco, eucalipto, girassol, latão, sândalo, calcite. É representado pelos seus falangeiros, caboclos bugres e de penas. Sua saudação é: Okê bamboclima!

No Rio de Janeiro, Oxóssi é São Sebastião, o padroeiro da cidade, com festa celebrada dia 20 de janeiro. Nesse dia, além de baterem nos terreiros, são levadas oferendas e realizadas cerimônias nas matas. Nas matas cariocas, como na Gávea e no Alto da Boa Vista, há clareiras entre as árvores feitas especialmente para as "macumbas". Para o dia 20 de janeiro são cuidadosamente varridas e, em alguns casos, enfeitadas com folhagens, bambus e bandeirinhas coloridas de papel de seda. Logo virão os filhos e as filhas-de-santo, com seus trajes brancos rituais. Ressoarão os atabaques e serão entoados os pontos, isto é, os cânticos de evocação e louvor. A cerimônia é realizada com o mesmo ritual de sempre, deslocando-se da tenda ou terreiro urbano para o reino de Oxóssi, no recesso da mata.

Referências[]

  • Pierre Fatumbi Verger, Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo, São Paulo: Corrupio, 1981
  • Mulher Natural: Oxóssi [1]
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